São 22:45, estou insone como sempre, embora o corpo precise de repouso, mas o que importa? Escuto o vento que sopra na copa das árvores enquanto as cortinas balançam lentamente, sinto o vento gelado que entra através da velha janela de madeira. Meu rosto se contrai. Na penumbra procuro um vestígio daquele que um dia habitou os meus sonhos. Onde estaria o meu adorado nesse momento? As folhas das árvores promovem uma sinfonia harmoniosa e melancólica. O pensamento se encontra fixo em um único objetivo que é encontrar a minha metade. O meu senhor dos desejos e dono do meu coração gélido e triste.
De um lado do céu a lua cheia e amarelada do outro alguns raios de Sol tímidos surgindo na linha do horizonte. Enquanto o Sol não vem aproveito estes instantes para refletir sobre como posso te encontrar.
Avisto uma pequena ave pousar no galho do Salgueiro plantado por mim há séculos em frente a casa, ela trás consigo uma fita amarrada ao redor do pescoço com um pequeno envelope negro...
Caminho em direção a janela com passos muito lentos como um gato que se desloca em direção a sua presa, porém a ave voa em minha direção e pousa sobre a janela, permanecendo imóvel. Me aproximo e com um golpe sorrateiro capturo o pequeno corvo, negro como a noite! Arranco o envelope do seu frágil pescoço e sinto em meus dedos o pulsar do seu minúsculo coração. Solto o mensageiro que ainda assustado retorna ao velho Salgueiro e entoa um canto languido e em seguida retorna a imensidão que o trouxe até aqui.